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PROGRAME-SE: Que impactos a internet trouxe para a produção televisiva?

CLÁUDIO PERALTA: A internet passou a ser, no mínimo, um alvo dos clientes, principalmente em termos de visibilidade. Acho que para mim uma das coisas que já ficou claro é que mesmo você não usando a internet imediatamente como um recurso de exibição, ele já há um tempo é um recurso de medição de resultados de campanhas. Eu tô falando principalmente da publicidade. Para isso, hoje, tudo que você faz, você mede através do Facebook, das redes sociais, quanto há de aceitação, o quanto se fala, e o quanto apareceu o que você tá anunciando em qualquer mídia. Antes a gente tinha talvez o IBOPE e mais outro recurso, agora ficou muito mais rápido e fácil de se saber o quanto tua campanha está se transformando diferencial. Para parte de conteúdo, aí então abriu-se uma possibilidade muito grande. Porque você ter espaço na televisão sempre foi uma coisa muito concorrida. Agora não. Você realmente pode pensar em produzir conteúdo sabendo que existe uma opção e que essa opção realmente é rentável. Ela se mostra rentável, tanto pra captação de patrocinadores, tanto pra você ter uma abrangência realmente grande de pessoas assistindo. Então eu acho que, sem dúvida, a gente está enfrentando uma nova era, economicamente importantíssima. Porque ela tá abrindo novos empregos, abrindo novas possibilidades. Como todo início de processo, existiu uma espécie de preconceito com o que se produzia pra internet. Isso já não acontece. Por vários motivos. Um deles é pela qualidade do que você consegue visualizar a imagem. Você já tem internet Velox já tem um tempo. Aqui no Brasil ela não é tão rápida, mas a cada ano vai se transformando mais rápida, a cada ano é possível você ver um material com qualidade. E, passa-se a esperar essa qualidade. Então você não está só produzindo uma coisa que as pessoas vão ver sem ligar muito com a qualidade. Já começa a fazer diferença sim. Por que você tem uma qualidade boa de exibição. Então, passou-se a ter que profissionalizar o que se produzia, se você quer se mostrar profissional e quer mostrar o seu trabalho de uma forma diferenciada.

 

PROGRAME-SE: A tecnologia tem, de certa forma, deixado o público mais exigente. Como você analisa esse cenário?

 

CLÁUDIO PERALTA: Houve realmente uma corrida grande, principalmente das emissoras, de tentar criar formas de se ter interatividade em prol da televisão. Eu via muito isso nas feiras que eu tive a oportunidade de ir lá fora. Que tinha uma corrida para se tentar trazer para televisão a interatividade que a internet já tinha. Mas, a internet ainda lenta não poderia trazer os recursos de imagens que se tem hoje. Ela ainda é uma a se buscar e com certeza vão aparecer novas soluções, por que a gente está usando internet um pouco como se usava a televisão. Você tem canal. A grande vantagem é que você pode assistir o que você quiser, na hora que quiser. Você já não tem mais que ter uma grade de televisão. A televisão está tentando correr atrás disso inclusive. Porque ela já se sente pra trás. Então, todas as inovações que você vê, tanto das TVs a cabo, principalmente TV a cabo, TV aberta não tem muito como se utilizar de um recurso assim. Toda essa questão de banda de imagem que você tem, por que HD tem 4 bandas, tem toda uma relação diferente de possibilidades que a TV a cabo está correndo atrás para conseguir trazer para o telespectador, mesmos recursos que ele pode procurar na internet. E assim prender ele a televisão ainda. Podendo ele sim escolher os seus canais, escolher seus programas, sem precisar esperar a grade, ou esperar o momento de ver. Mas ainda é muito baixo. Principalmente relacionado à internet, na internet realmente você faz a sua procura. Com a diferença que assim, talvez a internet esteja mais próxima a te trazer soluções que tirem a relação com a pirataria. Por que mal ou bem, o grande boom inicial que se tinha de encontrar filmes, encontrar o quer que se quisesse ver, era quase exclusivo na pirataria. Difícil você achar alguém vendendo algum filme para você ver pela internet. E agora já não é assim. Agora você tem canais como o Netflix, que te possibilitam ver “trocentos” filmes independente da hora ou querendo parar no caminho e depois ver no dia seguinte, pagando um valor fixo. Quem ficar para trás vai ver o seu telespectador saindo. Indo buscar outras alternativas. E o que é bacana é que tá tirando um pouco o espaço da pirataria. Tá dando opção de se ver tendo-se um contrato, tendo uma forma legalizada de se ver. E acesso a isso tudo. Sem ter que ficar preso a locadora, ou esperar a grade da televisão colocar os filmes à disposição.

PROGRAME-SE: Diante desse quadro, qual a relevância da TV hoje?

 

CLÁUDIO PERALTA: Olha, ela ainda é um patamar gigantesco em termo de agrupar telespectadores, onde você quer transformar a sua imagem em algo visível para uma gama gigante de pessoas. O que passou a ser obrigatório é que você crie programas que tenham esses atrativos. O esporte, especificamente, é um que quase fica como um programador que tem um espaço eterno e que tem uma grade cativa, gera muitos recursos, porque você sabe que as pessoas vão assistir, vão olhar e aí você consegue associar melhores vendas de espaços comerciais e isso tudo te ajuda muito na hora de escolher o que você vai passar, e reforçar a sua grade. Agora, o que é importante, e a televisão está tentando ir atrás para poder competir com as outras áreas, é agrupar as informações num lugar só. É ela ser rápida o suficiente para te dar noticiários rápidos, para te dar informações rápidas, já que a internet é muito rápida, só que de uma forma mais concentrada. Então ela transforma informações que são muito vagas, que muitas vezes você tem que procurar em dois, três, quatro lugares diferentes, e ela tenta agrupar isso de uma forma com que você tenha isso mais imediatamente. É claro que assim, nem todo mundo quer se prender a opinião de um lugar, ou a forma que tá sendo exposto de determinados canais, mas o fato que ela ainda é a maior rede de distribuição de imagem, e a forma como as pessoas ainda estão acostumadas a irem atrás. Ela tem ainda um espaço bom. Não é mais o mesmo. E ela precisa cada vez ser mais rápida e trazer informações mais precisas.

PROGRAME-SE: Como a convergência midiática tem auxiliado os processos de pós-produção?

 

CLÁUDIO PERALTA: A Conspiração ela entrou, especificamente na área de TV, há alguns anos, e ela teve que associar aos seus produtos a sua marca de qualidade. Então não se pode produzir para televisão, como se produzia antigamente. Onde se visualizava: “Bom, vai passar uma vez, ninguém vai ter muito discernimento que bom, que não é. Se é legal, se não é. Se tá mal feito, se tá esquisito”. Isso acabou! A verdade que o telespectador já tá acostumado, já acostumou o olho, já sabe o que é bem feito, o que é mal feito. Então, a pós-produção, a partir do momento que ela passou a ter um papel mais importante e abrangente nas produções, porque ela conseguiu trazer recursos que a televisão, ou que produtos antes não poderiam ter por ser caros, ela passou a ter também o dever de ser manter em níveis altos. O que dá pra sentir é que não existe mais produzir diferencialmente para uma publicidade, que vai passar umas cinquenta vezes ou cem vezes no canal, ou para televisão que a princípio passaria uma vez. Primeiro que já não é mais assim. Não passa só uma vez. O cara vê, depois ele revê na internet, depois passa de novo. Tem a opção de ver na própria TV a cabo mais de uma vez o mesmo programa, então você já não pode mais seguir esse mesmo critério de “passou uma vez e ninguém mais viu. Esse acesso às ferramentas, acesso à tecnologia da pós produção, deixou de ser tão restrito, porque deixou de ser tão caro.  Então, de uma forma geral, todo mundo começou a ter acesso a poder pós-produzir de uma forma melhor, a ter um cuidado melhor. Se tem gente produzindo bonito, a gente tem que produzir muito mais bonito. Se tem gente produzindo bem feito e que você não perceba o que é efeito e o que não é, o que notoriamente está de boa qualidade, a gente tem que estar um passo à frente disso. Eu acho que o grande diferencial está exatamente na democratização da tecnologia. Todo mundo tem acesso. Então não tem como não você se manter de outras formas no topo, não só porque você tem equipamento, porque agora todo mundo tem. Mas sim porque você tem know-how e você tem a capacidade de produzir bem feito e melhor.

 

PROGRAME-SE: A repercussão na internet altera o ritmo de trabalho e o modo de produzir?

 

CLÁUDIO PERALTA: Ainda é uma coisa de ação e reação. Eu acho que a possibilidade que essas novas mídias estão dando é de você produzir rápido, não necessariamente ser tão caro, mas produzir com boa qualidade, e usando bastante recursos a produção e não na exibição. Você não precisa gastar na exibição, precisa gastar na produção. A produção está melhorando, você consegue exibir isso e ter uma resposta imediata. O quanto que aquilo é legal, o quanto que aquilo agradou, como que as pessoas estão falando disso. Essa resposta do público, ela passa ser muito mais rápida. Ainda não existe muitas ferramentas para você fazer, ver que não está agradando, modifica um pouco, dá outra cara. Isso não é tão dinâmico ainda. Mas é um dos lados que a gente vai acabar crescendo. É você conseguir transformar realmente em ações, quase que imediatas, a repercussão do que você tá colocando de exibição.

 

PROGRAME-SE: Dá pra dizer o que funciona no mercado de TV hoje?

 

CLÁUDIO PERALTA: Olha, eu acho que você tem que sempre ser muito ligado a sua proposta. Acho que isso é uma das coisas que que funciona é quando você consegue captar a sua proposta, sua ideia, o que você gostaria de passar, e usar todos os recursos para se ater a isso. Tentar abranger áreas diferentes, tentar ser um pouco de tudo, ou querer se adaptar a ponto de sair um pouco do que você tá com a ideia inicial ou lhe agradar mais é uma coisa que acaba distorcendo o que você produz. E as pessoas sentem quando aquilo está começando a ficar sem forma, sem propósito. Eu acho que o bacana das séries por exemplo, que é o formato que hoje tá sendo absorvido pelo mundo inteiro, é que as séries muitas vezes não têm o compromisso de serem de um tamanho muito grande, elas não tem o compromisso de contar uma história tão enorme assim, ela pode se prender a um roteiro, como é um filme, uma peça menor, só que de uma série, destrincha isso em algum episódios. Uma única ideia, ao longo de um período. Isso amarra as pessoas. Isso traz a pessoa para dentro daquela daquele conceito. Eu gostei daquilo, comprei aquilo, vou seguir aquilo. Isso que faz diferencial. O quanto você consegue fazer as pessoas quererem seguir o que você criou. E não ficar tentando ir atrás das tendências para ir modificando a sua ideia para agradar a todos. Isso não vai funcionar. Isso para mim, é uma coisa que incomoda muito. É onde você perde o interesse. Você começa a ver que tá perdendo o conceito. Eu acho que tudo que você cria se prende ao seu conceito, e você vai até o fim. Mesmo que não seja alguma coisa de grande alvo, pelo menos as pessoas que tão acompanhando elas vão se sentir que faz sentido e que elas tão realmente recebendo algo que foi pensado, que foi concebido. E não que foi adaptado para tentar agradar.

 

PROGRAME-SE: Diante de tudo que conversamos, como você pensa o futuro da TV?

 

CLÁUDIO PERALTA: A verdade é que a TV tem o dever de correr atrás para conseguir se transformar numa relação interativa. Vai ser difícil segurar a relação de trazer informações que você queira e não que estão disponíveis. Eu acho que hoje não tem como negar que você vai atrás do que você quer e se a televisão não oferecer isso, ela vai cada vez mais perder mais espaço. Principalmente por que você tem alternativas de visualização melhor para internet. Então se você pensar que “gosto de ver meu filme em televisão grande!”, tudo bem, você hoje pluga qualquer dispositivo na televisão grande e você vê. As pessoas que estão mais ligadas a isso, hoje em dia se você for perguntar o que você vê de televisão aberta, Não vê. Simplesmente não vê. Não é o que você vê. Não vejo. Não ligo em tal canal há não sei quanto tempo. E assim vai ser. Porque a tendência é que você queira perder seu tempo com que você quer ver. E não com o que está disponível. E você poder ter essa escolha, é o que a televisão precisa fazer para poder se manter com a abrangência que ela ainda tem hoje. Então, tem muitos recursos vindo por aí, fala-se muito sobre o nível de qualidade que se atinge, hoje você tem o HD, depois você vai ter o 4K, isso tenta ainda chamar um pouco de atenção no sentido de “Olha, você pode tá vendo na internet, mas aqui você vai ver um negócio que você não tem como ver em lugar nenhum, uma qualidade de imagem absurda, um patamar diferenciado”. Mas, ainda o conteúdo consegue ser mais forte do que isso. Então, para um exibição de um show, ou de um esporte, inevitável que a imagem faça diferença. Porque o programa que você está vendo é o mesmo. Só que você ver num celular pequeninho ou na televisão vai fazer uma diferença grande. Agora se não for por esse eventos, o conteúdo fala mais alto. O que é bacana de se ver é que se você não tem disponível na televisão, você não vai trocar conteúdo bom só porque tem mais resolução, só porque é 4K. Você não vai fazer isso, você não vai perder o seu tempo com o conteúdo pior, porque tem mais qualidade. Eu não preciso acertar o que que meu telespectador quer, mas eu preciso dar uma gama de opções para que ele sim possa escolher isso, e determinar qual é a preferência dele. Ai eu consigo me manter sempre acima e muito acessível pra todo mundo.

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