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PROGRAME-SE: Como tem sido fazer TV no cenário atual da convergência midiática?

 

FRANZ VACEK: Quem não conseguir se adaptar às novas tecnologias – internet, telefonia móvel – não vai conseguir sobreviver nos próximos anos. A televisão sempre vai ter seu espaço. Mas a televisão já perdeu muito espaço. Eu morei os últimos sete anos, quase sete anos, no exterior, em Paris, era correspondente internacional aqui da Rede TV!. Eu posso te dizer que no meu circuito de amigos ali, pouca gente tinha TV na sala. Então, muitos se informavam pela internet, pelo computador, pelo celular, pelo tablet e quando eu cheguei aqui, eu falei assim: “Poxa vida! Se nós não conseguirmos uma sinergia de todas essas tecnologias, nós não vamos conseguir sobreviver nos próximos dez, quinze anos. A gente não vai conseguir crescer”. E o que que nós começamos a fazer? É, hoje, nos telejornais, é, nos produtos do jornalismo e do esporte, aliás, toda a Rede TV praticamente, a gente tem ferramentas como o WhatsApp, nós temos ferramentas como o Facebook, as pessoas interagem... Porque não faria nem sentido, é, um telespectador passivo. Hoje, na internet, todos são repórteres, todos opinam, então, por que não opinar também em TV? Por que não opinar também em TV aberta? É claro, há filtros necessários. É, aquela resposta imediata do internauta, a gente tem sempre o compromisso de transformar, apurar aquilo que ele tá falando e tal, até pra ter uma, um diálogo. O grande diferencial que eu acho do jornalista hoje para uma pessoa que tem uma câmera na mão e está opinando e postando seus vídeos na internet, no YouTube, é a informação é, a apuração daquela informação. Então, isso a gente tem que ter, como os jornalistas responsáveis, mas enquanto empresa, a gente tem que ter a noção que sem a internet a televisão não vai sobreviver muito tempo. Agora, a internet sobrevive sem televisão, então, é esse o peso das coisas.

PROGRAME-SE: Quais linguagens e formatos atraem mais o público hoje?

 

FRANZ VACEK: Sem dúvida é uma linguagem ritmada. O ritmo é muito importante. O consumidor de conteúdo de internet, por exemplo, a gente percebe que ele quer uma informação mais rápida, mais seletiva. Agora, na televisão, a gente tem por obrigação, no espelho de um jornal, ter um pouco de tudo. Que retrate o factual, daquele dia e outras grandes reportagens. Acho que a resposta melhor é a que a gente começou lá atrás e que a gente vem se reinventando, que é o programa “Leitura Dinâmica”. Leitura Dinâmica nada mais é que o resumo das informações, dos fatos do dia, numa linguagem muito rápida, numa linguagem quase de videogame ou de internet. Tanto que é uma das nossas maiores audiências. Agora, lá atrás, quando nós começamos o Leitura Dinâmica era novidade porque o apresentador apresentava de pé, se deslocava e tal, é, pelo estúdio, não ficava paradinho... Hoje os outros fazem, então, assim, como se reinventar? É ritmo, é formato, é conteúdo. E o que a gente tem de, no nosso DNA aqui na Rede TV, que é a ousadia.

PROGRAME-SE: Há uma relação maior hoje entre jornalismo e entretenimento?

 

FRANZ VACEK: Sem dúvida. Quem que inventou assim certos, certas regras para o jornalismo que parecem dogmas, que não dá para passar ou ultrapassar? Por exemplo: olha, a gente não pode, nessa determinada matéria, o repórter não pode ser um personagem, dar muita risada, porque ele tem que ser aquela coisa séria, aquela coisa de passar a informação com qualidade. Quem disse que a informação não pode ser passada com qualidade com um sorriso, é, com um abraço com o personagem? Quem disse que existem esses limites? Eu queria saber quem que impôs isso porque eu acho que é um desserviço à população. O jornalista precisa sair um pouquinho desse altar. Limites éticos? Sou totalmente favorável. Trabalhar a informação, respeitar o entrevistado, saber quem é o entrevistado. Não poder, em uma matéria de comportamento, se divertir também, não poder fazer certas perguntas por que seria entretenimento artístico, desculpa... Eu acho que quem inventou isso, está censurando a liberdade, a descontração da informação, porque as pessoas, elas podem ser informadas tanto de um conteúdo mais sério, mais quadradinho, quanto algo mais descontraído. E quem aqui vai me convencer que isso não é jornalismo?

 

PROGRAME-SE: Como você analisa a importância da TV aberta hoje?

 

FRANZ VACEK: A TV aberta brasileira precisa esquecer um pouquinho os enlatados que vêm de fora, esquecer um pouquinho o que os Estados Unidos ou mesmo a Europa mostram como verdade absoluta. Nós somos diferentes, nós temos o nosso jeito, o nosso jeito de produzir, o nosso jeito de contar a história, enfim, o nosso formato de fazer TV. E nós somos muito bons nisso. Infelizmente, o brasileiro lê muito pouco. Se não me falha a memória, menos de dois livros por ano; na França, acho que são onze ou catorze, não sei. Mas o brasileiro ainda se informa muito pela televisão. Então, nós temos um compromisso social de informar, de informar bem e informar do nosso jeito. Não adianta eu comprar um enlatado americano e achar que eu tô fazendo a minha parte enquanto televisão para contribuir socialmente no país, porque não estarei. Pode até dar audiência, mas eu sempre defendo uma audiência com qualidade. Uma coisa sem a outra não vai.

PROGRAME-SE: E como você analisa o futuro da TV?

 

FRANZ VACEK: Eu acho que o futuro da TV é uma TV muito mais autoral. Cada repórter ou jornalista vai ter a possibilidade de ter um equipamento cada vez melhor e mais leve; ele vai poder ser autor de praticamente todo o processo. Não tô falando que isso vai eliminar emprego nem nada, que acho que sempre vai ter pra todo mundo, sempre vai ser necessário um apoio logístico atrás. Mas a partir do momento que hoje, qualquer internauta com equipamento leve, de qualidade, consegue produzir conteúdo, se nós não nos adaptarmos a isso, seremos ultrapassados pelo nosso próprio telespectador. Imagina um negócio desse? Nunca se esquecendo que o objetivo final é o telespectador, é enviar a ele uma informação de qualidade. Quem não perceber hoje, isso, não vai fazer TV daqui a dez anos.

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