top of page

PROGRAME-SE: Qual a importância da TV em meio à convergência?

 

GUILHERME BOKEL: A TV tem, no Brasil, sempre teve, uma importância muito cultural, né, de unir o país. Desde que a televisão foi fundada, ela vai se consolidando como uma espécie de espinhal dorsal da cultura brasileira. Eu acho que principalmente a TV Globo, e não é porque é a TV Globo, porque eu tô aqui, mas principalmente a TV Globo teve essa preocupação de formar uma cultura nacional. E esse fato gerou uma coisa que a gente chama de cultura nacional, quer dizer, a gente, ao investir em cultura nacional, nós levamos ao país todo uma linguagem universal, mas que é uma linguagem nacional, porque a TV Globo é uma empresa que trabalha com produtos brasileiros, basicamente. Desde o seu início, tentou, o tempo todo, trabalhar com produtos brasileiros, fazer produtos nacionais, desenvolver essa indústria e acabou sendo essa pioneira nisso e hoje majoring nessa coisa. A importância da televisão, aberta, fechada, seja onde ela estiver, sempre será levar cultura, não só entretenimento, que eu acho que também é divertir, assim, a gente tem canais de cultura, canais de diversão, tem canais de informação, tem canais de todos os tipos. Cada vez mais isso vai se segmentar, porque a televisão a cabo é uma realidade de segmentação, de exclusividade, onde você vai assinar ou ligar aquele canal para assistir determinada coisa, mas não é nada mais do que uma televisão aberta segmentada. Você tem a televisão aberta hoje, tem, como sempre teve, cultura, informação, entretenimento, emoção, tudo isso, a televisão a cabo agora segmenta isso. Mas a televisão, seja ela aberta ou fechada, tem essa, tem essa ótima missão de fazer tudo isso acontecer na casa das pessoas. E principalmente o povo brasileiro, que ainda é muito dependente da televisão, para se divertir, para se informar, até porque a televisão cumpre esse papel que, em outros países, ele tá muito diluído entre jornais, revistas, livros, e outros.

PROGRAME-SE: Quais as grandes mudanças que têm ocorrido no modo de fazer TV?

 

GUILHERME BOKEL: Na verdade, a mudança no modo de fazer TV vem muito da mudança da audiência. Porque isso aqui nada mais é do que um mercado. Você tem um mercado de televisão aberta, um mercado de televisão a cabo, e agora você tem o mercado da internet e daqui a pouco eu não sei mais o que mais terá, mas você tem disponibilidade de acessar qualquer conteúdo no smartphone, aonde você estiver, no ônibus, ou no carro, num táxi, seja onde for, você acessa o conteúdo que você quer. Quando você passa a ser o seu programador, ou seja, quando você passa a programar o que você vai ver, você não depende de uma grade ou de programação que lhe é imposta, ou que lhe é dada, você passa a ter o domínio sobre isso, passa a criar um mercado de concorrência, que precisa ser observado de perto, mas também é quase que impossível de você ser dominante nisso mais. Assim, uma coisa é quando você tem uma televisão aberta, você tem lá cinco canais abertos, cinco redes de televisão, e elas disputam aquele espaço da audiência. O que você entregar para eles, eles vão ler sem até pensar muito se aquilo lhe agrada. Outra coisa é quando você começa a ter a TV a cabo, que já é uma realidade no Brasil, bem consolidada, mas você começa a ter a possibilidade de buscar um conteúdo, seja ele qual for, num smartphone, aonde for, e você tá com a sua novela no ar, a sua série no ar, você tá com um programa. O desafio é fazer o melhor produto possível, pra que isto não seja uma, uma coisa fácil para o consumidor, sair da televisão.  Eu acho que todas essas telas, daqui a muito pouco tempo, serão uma só. Você terá na sua, no seu aparelho, a televisão aberta, o cabo, a internet, a rede social, tudo funcionando numa única tela. Vai pegar a atenção aquele que tiver o melhor produto, aquele produto que melhor fale com aquela audiência que você está se destinando a falar. Não importa se ela será na aberta, se ela será no cabo. Cada uma dessas mídias tem um papel, na minha opinião. Eu não tenho dúvida que a internet tem um papel, o cabo tem outro e a televisão aberta tem outro. Mas você, não, não necessariamente sabe isso, você consumidor. Quem sabe, quem tem que saber isso somos nós. Nós temos que entender o que que o consumidor quer ver e dar a ele o melhor qualidade, o melhor produto possível para que ele não mude e fique pulando, embora isso não seja uma realidade, porque ficar pulando hoje, principalmente entre os jovens, é uma realidade, mas o que importa é que você se fixe num produto e, para isso, esse produto tem que ser bom. O que a gente faz é investir em um produto de qualidade, porque como dizem lá fora, assim, “o produto é o rei”. Não tenha dúvida. Se você tem um produto matador, as pessoas estarão vendo em qualquer parte do mundo. Agora, quem é o soberano mesmo é o cara que liga o aparelho, porque ele que tem o direito, ele que tem na mão o botão que faz ele assistir o seu produto, mesmo que ele seja bom ou ruim, ou o produto da internet, ou do cabo, concorrência, não importa. Você tem que conhecer. O desafio é conhecer profundamente cada vez mais a sua audiência. Não só a sua audiência, toda a audiência. É o maior desafio de todos que trabalham com televisão. Quem é a nossa audiência? Como é que ela se modifica tão rapidamente? Eu diria que a nossa audiência hoje é bipolar, porque de manhã ela está de um jeito e à noite já está de outro. Ela muda de humores. A nossa audiência não é mais aquela coisa antiga, que fica ali, você sabe que aquilo pode mudar, aquela tendência pode mudar, daqui a um ano talvez, se um fato histórico ou qualquer coisa na sociedade caminha para que aquela sociedade mude um pouquinho. Hoje, a velocidade do pensamento ele é quase que a minuto. Se se posta um vídeo na internet hoje e ele fica viral, aquilo tem um efeito sobre a cabeça das pessoas, que vai de alguma forma interferir na forma que ela estiver vendo uma novela sua, por exemplo. Ou uma série, ou um produto que tá no ar agora. Então, é muito importante você conhecer, para poder falar com o público, é conhecer permanentemente, é estar sempre antenado, sempre ligado, na sua audiência, nas audiências, porque você não pode perder audiência, nem deixar de conquistar audiência, porque ela hoje é mutável. Enquanto você der a ela motivo para estar ali, ela vai estar. Quando você não der mais, ela não vai estar. E como é que você faz isso? Só conhecendo o que ela quer ouvir, só conhecendo muito. E isso não é uma regra só da televisão, isso é uma regra pra tudo né? Assim, um chocolate, uma Coca-Cola ou um pão, tudo, qualquer coisa. Coca-Cola uma vez é, não se sabe por que, mas, essa história é fantástica porque os caras eram líderes de mercado, tinham cinquenta e tantos por cento do mercado, a Pepsi vinha atrás crescendo, mas não era líder. O presidente da Coca-Cola resolver seguir o rabo e mudou o sabor da Coca-Cola nos Estados Unidos, logo num grande mercado. E botou ela mais adocicada. Pô, ela quase perdeu o mercado. Ele foi demitido, obviamente, esse cara nunca mais deve ter arrumado um emprego, porque lá é assim, deve ter ficado rico de qualquer forma, mas ele quase colocou a Coca-Cola a perder, porque ele não entendeu que o mercado dela era maior do que o da Pepsi. Ele ficou com medo de uma concorrência que vinha atrás e, em vez de entender o mercado dele, entender a audiência dele, ele foi copiar um produto que vinha fazendo uma ameaça a ele. Então o mais importante que eu acho, o maior desafio é tentar entender pra quem você tá falando. E entender que isso muda de cinco em cinco minutos, principalmente entre os jovens. É o pior de tudo.

PROGRAME-SE: O entretenimento é o carro-chefe da programação?

 

GUILHERME BOKEL: Não. Eu não considero isso. Eu considero que todas as vertentes de comunicação de uma televisão, ou da Web, são hoje igualmente importantes. Quando acontece alguma coisa no Rio ou em São Paulo, ou em qualquer parte do mundo, qualquer atentado numa escola, nos Estados Unidos, ou uma guerra que começa, a audiência, ou, as audiências, em geral, e os comentários nas redes sociais, e os sites, estão todos ligados nisso. Então, a informação tem um viés extremamente importante e ele é muito mais forte, o fato. Como o mundo é uma aldeia global conectada vinte e quatro horas por todos os meios, a informação, ela tem um poder muito maior hoje de sedução do que o entretenimento. O entretenimento é super importante, é cada vez mais importante para unir as famílias, no caso, a televisão aberta, para formar linguagem, para formar cultura, para divertir simplesmente, dar um refresco às pessoas, mas a informação é uma coisa assim que agrega a audiência que muitas vezes. Por exemplo: se, no meio de uma novela, você interromper com um fato relevante, que seja importante para toda a audiência, para toda a sociedade, a audiência dá saltos. Então, é importante sim, é importante sim que a gente tenha vez mais um sistema de informação muito bom. Jornalismo de primeiro, assim como o entretenimento, mas o jornalismo tem que ser de primeira.

PROGRAME-SE: Como você analisa a força da segunda tela?

 

GUILHERME BOKEL: É sensacional. A gente imagina que quanto mais falarem de um produto, a gente imagina não, a gente sabe, que quando um produto está no ar, quanto mais ele estiver sendo comentado, mais audiência ele está agregando ao produto. Porque a rede social tem esse papel. Ela vai trazendo pessoas que vão entrando toda hora, ligando seus smartphones, ou seu iPad, seja qualquer aparelho que esteja conectado a uma rede social, à medida que começa um buzz sobre algum assunto, as pessoas vão entrando, vão entrando e o produto vai sendo comentado, o produto tá no ar, uma notícia, qualquer coisa que esteja no ar, em qualquer canal. As redes sociais terão cada vez mais importância para as mídias em geral, como uma forma de agregação de grupos, uma forma de difusão de ideias, quer dizer, é como se você tivesse quase que ampliado a sua sala a uma potencialidade máxima. Antigamente você tinha ali na sua sala a sua família, assistindo alguma coisa, e conversava entre eles. Agora, não tem limite mais isso, você pode estar conversando com seus amigos em qualquer lugar do mundo, sobre um programa que às vezes ele nem tá vendo. É uma conexão que é sensacional, porque une todo mundo, embora também disperse.

PROGRAME-SE: Na criação dos programas, já se pensa no peso das redes sociais?

 

GUILHERME BOKEL: Começa a ser pensado. Eu não vou te dizer que toda vez que a gente imaginar um produto agora, a gente imagina nas redes sociais, isso não existe ainda. Até por que, é quase impossível você conhecer exatamente quem é, quem são essas pessoas. Elas mudam todos os dias. Se você tem dezoito anos, e chegar aos vinte, em dois anos de rede social, o seu pensamento nas redes sociais aos dezoito não tem nada ver com o de vinte. Essa é uma coisa que é muito rápida. Então, a rede social, as redes sociais que você tem, por exemplo, antes, já tivemos o Orkut, que já foi para o espaço, agora o Facebook é uma coisa que nem é muito de jovem mais, né? O Facebook já foi tomado por um pessoal mais velho ou o pessoal que envelheceu com o Facebook. Eu não sei bem, mas assim, eles não são os jovens. E outras redes vão nascendo. Por que que isso, essa dinâmica é assim. Exatamente por causa do frescor, da novidade, da juventude. E exatamente porque os grupos se expandem e se comprimem, à medida que eles vão mudando de raciocínio. E acompanhar esse raciocínio é que é o complexo. Como é que você acompanha essa expansão, por exemplo, o Facebook passa a ser uma coisa que era de jovem, agora dizem, os jovens dizem que é uma coisa de velho. E é. Eu uso o Facebook. Eu não sou velho, mas eu uso o Facebook. Mas não, é, as minhas filhas, por exemplo, já tão em outras, já tão mais no Instagram, porque é mais a cara delas, e tal, então, acompanhar essa expansão das redes é uma tarefa hercúlea. Porque é impossível, é uma coisa que tá em movimento, é uma coisa em ebulição. Mas ao mesmo tempo, assim, se você faz programas, você tem que fazer o melhor programa, que se acredita, que fale com todo mundo que você conhece. Como essas coisas vão ser recebidas por essas redes depende muito da rede. E depende muito do grupo. E depende muito do momento que aquilo vai ser colocado no ar. Porque, por exemplo, quando você começa a fazer um produto, você tem lá seis meses de gestação de um produto, por exemplo, a gente tá fazendo um aqui agora para outubro [2015], é, você tem essa realidade do país hoje aqui que também muda constantemente e nesse turbilhão que o Brasil tá vivendo muda mesmo, de real, pode ser que em outubro, esse produto que a gente tá fazendo não faça tanto sentido como a gente acredita que ele fará hoje. Acreditamos até que sim, mas é difícil, porque a velocidade da coisa hoje é muito superior a capacidade que você tem de reagir a isso. Mas o que a gente tenta fazer é um produto que fale para todo mundo que a gente conhece, e que deixe taglines para eles discutirem. Isso, a gente começa a pensar. Como os bordões de antigamente, né? Porque quando você pegava programa de humor antigamente, isso é muito também, cíclico, mas quando você pegava um programa de humor antigamente, cada personagem tinha um bordão. Esses bordões são os taglines de hoje que a gente pode colocar nas redes sociais e discutir.

PROGRAME-SE: O que funciona em cada plataforma?

 

GUILHERME BOKEL: Olha, essa é a pergunta de um milhão de dólares. Acho que o que eu posso te dizer é que a televisão aberta tem um caminho claro, que é unir a família. Como ela vai ao ar e é imediato, quer dizer, diferente do cabo que você pode ver a qualquer momento o que está lá, está disponível pra você, embora tenha uma estreia às oito da noite, mas a partir do dia seguinte você pode ver no horário que melhor te convier, ou até no Now, essas coisas, no Pay TV, no VOD. É, a televisão aberta, ela como é um produto que está no ar e assim que acabar você perdeu esta oportunidade, ela une a família. A família que hoje a gente fala não é mais a que fica sentada em frente à televisão, é aquela coisa da rede social. Quando um novela tá no ar, se você não estiver junto vendo, se você gostar da novela, se o teu grupo gostar da novela, estará o tempo todo conversando nas redes sociais. Ela tem essa característica, sempre teve essa característica e continuará tendo para sempre. Porque ela é um produto, ela é um meio de comunicação que é para colocar todos numa mesma sintonia, naquele momento. E aí vem com o jornalismo, vem flashes ao vivo de alguma coisa, principalmente eventos, eventos esportivos, shows, ela tá ali e ela é perecível e ela é imediata. Então, a televisão aberta tem esse papel, sempre teve e continuará tendo e não acredito nunca que ela deixa de ter a importância de ser o corpo central, disto. A televisão a cabo te dá a opção que você tem, e terá no seu computador, daqui pra frente isso vai ser misturado, porque o cabo ou o que você vê no VOD, o acesso que você tem na sua máquina ou até no seu smartphone é o mesmo da televisão a cabo, então, a televisão a cabo tem uma dificuldade muito maior pra enfrentar a nova mídia, na minha opinião, que é a mídia portátil, a mídia que você que comanda, do que a própria televisão aberta, porque como aquilo é segmentado, e são específicos por gênero, ou é notícia, ou é esporte, ou são séries dramáticas, ou são séries cômicas ou documentários,  ou principalmente porque o programa infantil basicamente, ficou no cabo, ela tá ali segmentada, quando a web vai te dar também. E a web passar a ter uma outra função, mas ela tem ali um corpo de produtos que você pode encontrar em qualquer lugar que você for buscar. A web é uma outra linguagem. A web como programadora é uma coisa. Pode programar a televisão a cabo, pode até programar a televisão aberta. A web como fonte de informação ou como difusão de entretenimento é uma nova linguagem. A Web, eu posso garantir para você que ninguém sabe o que se quer ver ali. Aquilo ali é um território, terra de Marlboro mesmo, aquilo é um território que ninguém entende. A gente tá tentando entender, buscar uma linguagem, fazer web-séries que falem com essa audiência. Algumas já chegaram a um milhão de views, outras duzentos e cinquenta mil. O Porta dos Fundos é um ponto fora da curva, que consegue usar a web com uma linguagem nova. Foram os primeiros, lançaram ali, foram inéditos. Aquilo não é televisão, aquilo não é teatro, aquilo não é cinema, mas é um pouco de cada coisa, um stand-up dentro de uma mídia acessível pra todo mundo. Stand-up comedy com um pouco de humor, um pouco de dramaturgia, um pouco de comédia, mas é uma linguagem que eles fizeram uma fusão. Então, eu acho que a Web tem, como meio de entretenimento e de difusão de opinião, ela tem uma linguagem própria que a gente ainda tem que descobrir qual é. E isso a gente tá buscando. Agora, como distribuição de conteúdo, ela vai agregar tudo, eu acho que isso tudo vai virar uma tela só. Eu acho que a internet, ela deixa de existir em muito pouco tempo, esse nome não vai existir, você não vai falar mais internet, isso será novamente coisa de velho em muito pouco tempo.

 

PROGRAME-SE: Os conteúdos tendem a ficar mais transmidiáticos?

 

GUILHERME BOKEL: Eu não tenho dúvida. Eu acho que ao longo do caminho, a gente deve pensar, e já estamos pensando, mas a gente deve buscar como meta, programas que possam atravessar todas essas mídias. Não o mesmo programa, mas uma mesma ideia, colocada lado a lado, em cada uma dessas mídias. Eu vejo uma, uma grande possibilidade de você ter uma série que começa na televisão aberta, de alguma forma, - a gente tem feito algumas experiências aqui, que geram filmes ou filmes que geram séries, isso já tá começando a acontecer. As janelas de exibição de um produto, isso a gente já tem, né? A gente já sabe quando um produto sai da janela de exibição da TV aberta, quando ele vai para o cabo via Viva ou GNT, quando ele vai, quando ele sai imediatamente para web, quer dizer, janela de exibição de um produto é uma coisa, um produto pensado e colocado de forma adequada em cada uma dessas mídias é outra coisa. Esse é o próximo passo, na minha opinião, da televisão. E o movimento que vai liderar isso, é o da televisão aberta. Porque o contrário é impossível: é impossível você imaginar um produto que nasça na web, e aí vai para o cabo, depois vai para o cinema e depois pra televisão, porque a web, ela é experimental e são produtos que têm que ser muito simples e de consumo muito rápido. Eu vejo que pra você gerar um produto, pra que você tenha capacidade de colocá-lo em todas as mídias de forma diferenciada, tem que ser um produto complexo, um produto muito estruturado, leva tempo. Esse tempo que a televisão aberta tem mais do que a web. A web não tem tempo pra isso porque a web, é perecível. Você lança um vídeo, ele fica viral, tem lá cinco, vinte milhões de pessoas e ele acabou depois disso. Ele morre. Então, você tem que ser rápido nisso porque uma ideia é boa naquele momento na web. Ela é boa se ela for colocada na hora certa, no lugar certo, senão ela deixa de ser boa. A televisão aberta, ela pensa numa série, pode pensar numa série estruturadamente para todos esses caminhos, mesmo que comece na web. Mesmo que a semente desse produto seja uma web pequena lá no Gshow, mas ela tá pensada para ser uma série na televisão, um filme no cinema, um spin-off de um personagem, como a gente tem feito aqui para mandar para os Estados Unidos, a gente tem trabalhado nisso. Spin-off de plots de uma novela nossa ou de personagens nossos que vão virar uma série, ou que vão virar uma web-série e tal. A gente tá trabalhando, tem trabalhado muito, nossa área aqui de coprodução internacional, trabalhando com plots, spin-off de plots, spin-off de personagem e desenvolvendo para série americanas. A gente tem mandado isso constantemente para o mercado americano, para tentar atingi-los lá com isso. Alguns já começam a rolar interesse.

PROGRAME-SE: Os seriados estão desempenhando funções cada vez mais importantes no mercado internacional. Essa força chegará também ao Brasil?

 

GUILHERME BOKEL: Eu acho que é um caminho inevitável. Seriado é o cinema novo. É o novo cinema do mundo. Mesmo os americanos. Hoje o que você tem nos Estados Unidos, de produção: você tem blockbuster, que são filmes que custam cem, duzentos milhões de dólares, que precisam faturar um bilhão, dois bilhões, para serem viáveis. Então, cada vez menos o cinema americano testa a sua capacidade de produção de produtos cult, ou pequenos. Claro, tem filmes indies americanos, que é uma reação a esses movimentos dos blockbusters, e são muito bons. Mas a verdade é que produtores, autores, diretores, estão migrando para a televisão, fazendo um movimento para televisão porque a televisão é rápido, custa muitos menos do que o cinema, hoje em dia, lá nos Estados Unidos. E as séries têm cada vez mais componentes cinematográficos, elas estão sendo cada vez mais cinema e menos televisão. Então, eles estão criando uma linguagem, que o mundo está gostando, eles vendem para o mundo inteiro, como fizeram com o cinema, e que nós vamos ter que fazer também. A TV Globo está investindo muito em série, tem que continuar investindo cada vez mais, é um produto que tem aceitação e é universal, em geral, ele tem que ser universal. E todo mundo tá buscando esse tipo de conteúdo. Aliás, o mundo inteiro está buscando conteúdo bom em qualquer lugar. Eu acompanho, nas nossas feiras internacionais, que a gente vai, é uma busca frenética por bom conteúdo.

PROGRAME-SE: Como pensar, então, os caminhos da TV do futuro?

 

GUILHERME BOKEL: A TV do futuro vai ser uma só, na minha cabeça. Não sei se você vai poder botar um óculos aqui e ficar assistindo ela. Mas ela vai estar em todos os lugares, na sua vida, unificada, e você vai acessar o que você quiser, na hora que você quiser. É um super desafio, porque a mesma tela, e essa tela estará te seguindo onde você for, isso não é ficção científica, isso é real. Na sua casa, aonde você estiver, terá uma tela. E qualquer coisa que você quiser fazer na sua vida, você fará através dessa tela. Qualquer coisa. Marcar um médico, fazer compra, namorar, se for o caso, e você estiver sozinho – isso já se faz muito. Qualquer coisa que você imaginar, você fará através da sua tela. Entretenimento, informação, educação, diversão, qualquer coisa, compras, enfim, a tela, a televisão, ela deixa de ser televisão, a internet deixa de ser internet, não existirá televisão paga, cabo, nada disso, é uma coisa só. São todas meios de levar informação a você. E você tará acessando ela o tempo todo, no seu relógio, no seu smartphone, onde você estiver. Somos todos dependentes desse negócio. Muito dependente disso aqui [referindo-se ao celular]. Não conheço nenhuma pessoa hoje que não tenha um smartphone, eu não conheço. Não conheço, quer dizer, talvez metade das pessoas que eu conheço, não o acessem com menos de cinco minutos entre um acesso e outro, talvez metade. Isso será muito pior no futuro. Ou muito melhor. Depende do ponto de vista.

bottom of page