top of page

PROGRAME-SE: Como a internet tem alterado o modo de fazer TV?

 

MÁRCIO MOTOKANE: A internet está transformando muito o modo de fazer televisão. Eu acho que ela se torna uma produção mais ágil, tecnicamente falando. Eu acho também que a internet populariza, não só a linguagem da internet e do audiovisual, mas ela também populariza o jeito de fazer televisão. Eu acho que você tem menos equipamentos envolvidos, menos gente, que no mundo de hoje, o menos faz diferença, o menos é mais, nesse caso. Eu acho que ele entra mais na vida das pessoas, do que a televisão em si.

PROGRAME-SE: Quais as grandes vantagens e desvantagens da TV aberta?

 

MÁRCIO MOTOKANE: A TV aberta depende de um mecanismo que eu cresci com ele, por isso eu faço televisão, chamado grade de programação. Particularmente, eu acho que a grade de programação tem força sim. Porque se a gente for pensar nova geração, que tá assistindo o audiovisual, não pela grade de televisão, quer queira quer não, ele também tem pares, ou seja, famílias, amigos. Ele tem o hábito de outras pessoas assistirem sim, em grade de programação. E vice e versa também. Você tem perdas e ganhos aí. Mas eu acho que particularmente, o ponto positivo da TV aberta é ainda o hábito de assistir TV por grade, programação por grade. O ponto negativo da TV aberta é que, cada vez mais ela tem que se atualizar, se popularizar e sair um pouco da caixinha, do que é fazer audiovisual. E fazer audiovisual para exibição em TV aberta. Que isso, há realmente um exercício que as pessoas precisam fazer, que os profissionais precisam ter, e o público também precisa ter, de desapego.

PROGRAME-SE: E quanto à TV fechada? Quais as principais fragilidades e potencialidades?

 

MÁRCIO MOTOKANE: Eu vou até fazer um comparativo com a TV aberta, A TV por assinatura nasce muito com aquela coisa de específicos temas, específicos assuntos, para determinados canais. A customização de uma temática dentro do audiovisual, no caso, televisão. Porém hoje eu acho que isso tem uma certa mudada. Hoje eu acho que tá sofrendo uma mudança com relação a interferência de outras linguagem, de outros suportes audiovisuais. Eu acho que a TV por assinatura também tem o seu próprio vício da linguagem, o vício na sua própria narrativa e formato, mas ela está aberta a conversar um pouco mais com outras formas de trazer e fazer audiovisual e exibir esse audiovisual. Por exemplo, quando ela utiliza muito as suas mídias sociais, as suas plataformas outras, que às vezes não necessariamente eletrônica, para conseguir manter mais a programação dela ao longo de um tempo maior, de uma duração maior que não necessariamente uma exibição de um programa. Então, assim, é todo um efeito que se faz, num estudo que se faz cada vez mais, pra manter aquela primeira exibição de estreia, pelo menos você lembrar daquela programação ao longo de uma semana, coisa que eu acho demais até. Mas ela consegue um pouco mais que a TV aberta. Não pelo título dela, pelo formato dela. Já a TV aberta, eu acho que ela consegue trazer a essa questão do tema, do título que é forte, ao longo da semana também. Não só pela internet. Mas pela popularização, pelo jeito com que ela divulga essa informação.

PROGRAME-SE: A segunda tela é um fenômeno que veio para ficar. Como você analisa o impacto na produção televisiva?

 

MÁRCIO MOTOKANE: Desde quando eu entrei na televisão, eu sempre olhei as outras telas. Eu nunca olhei só a televisão. A televisão era o meu fim. Basicamente era o meu meio-fim. Porém, eu sempre joguei videogame, eu sempre vi livro também como suporte sim eletrônico. Minha geração começa basicamente nos anos noventa, no começo dos anos noventa minha carreira. Nesse momento você já tem ali o videogame, a mídia eletrônica com uma certa força. Eu estudei rádio e televisão no começo da minha faculdade. O rádio também era um outro suporte. E até hoje, todos esses suportes, conversam sim com a televisão. Basicamente no mundo de hoje, o que eu vejo é muito positivo, essa entrada das outras mídias. Por que ela traz meio que o frescor para a linguagem. Por exemplo, se eu comparar um título de um programa, um formato de um programa, se deriva em um universo. Então por exemplo, eu sei de uma informação num programa de televisão, de uma série, por exemplo, só que se eu juntar essa série com outra série, que é uma outra websérie na internet, eu consigo achar outras informações, e outras curiosidades pra me manter naquela naquele tema. E automaticamente no título de vídeo de videogame ligado aquela série. Isso acontece muito nos universos dos HQs, né? Isso é muito legal. Isso faz parte dessa curiosidade e desse entretenimento que hoje a gente busca.

PROGRAME-SE: Como pensar em gêneros e formatos que atraiam o público de hoje?

 

MÁRCIO MOTOKANE: Falar hoje de gênero é complicado que eu acho que o gênero vem lá da literatura, do teatro. Você tem aí, muitos anos, muitos séculos de vivência do que que é o gênero até chegar à mídia eletrônica. E eu acho, basicamente, que o gênero está híbrido.  Então, por exemplo, vamos falar de doc ficcional, ficção documental. Ou eu vou falar de uma aventura que automaticamente eu tenho uma animação. Que que é animação e aventura?! Então assim, não é só a técnica que eu tô falando. É a linguagem e o gênero, basicamente. Hoje é uma miscelânea. Não acredito que há um tipo de gênero só não.

PROGRAME-SE: É possível traçar um perfil para o público contemporâneo?

 

MÁRCIO MOTOKANE: Eu acho que hoje, a TV, no geral, está falando para um público interessado em audiovisual. Eu particularmente acredito, óbvio, com toda definição de target, que você tem a classe social, você tem idade, faixa etária, gênero, e por aí vai. Só que assim, me pergunto? Quais são os gêneros hoje que a gente tem que pensar?! Qual faixa etária que a gente tem que pensar?! Que classe social que você vai falar, pensando especificamente em América Latina que fala muito da classe social em si? Se eu for pensar, em um público que o audiovisual quer conversar, ele quer conversar pra todos os públicos possíveis e imagináveis. Aquele que tem curiosidade em ter uma interação com a mídia eletrônica, com a imagem. Eu acho que a televisão quer falar com pessoas que queiram sim ter uma interação com o audiovisual. Por curiosidade. Por hábito, pensando aí num histórico da grade de programação. Por uma questão histórica mesmo. Por que eu acho que é uma plataforma que você basicamente vai se manifestar para passar alguma informação, alguma mensagem, ou seja, um manifesto, se a gente pensar na história da arte. Eu acho que a televisão faz parte sim desse universo da história da arte. E por aí vai.

PROGRAME-SE: Em breve, vamos ver o fim da grade de programação convencional?

 

MÁRCIO MOTOKANE: Com relação à grade de programação convencional, eu acho que existe um grande risco sim de ela desaparecer. Não por completo, mas ela diminuir, ou ela se transformar, se ajustando hoje ao target, pensando nos jovens, que veem a televisão de outra maneira. Que seria basicamente, por demanda. É o on demand. Por outro lado, existe sim também aquele jovem que não tá ligado à grade de programação, mas os seus pares, onde ele convive, onde ele fala sobre o audiovisual, assistem TV por grade de programação. Por exemplo, a família dele, os pais, os avós, os tios. Ou amigos que realmente gostam de ver grade de programação. Por que eu acho que é uma questão de entretenimento, de prazer, de busca pelo entretenimento. Eu particularmente assisto televisão da seguinte maneira: eu tenho a TV na minha frente, o meu computador também tá ligado, o meu celular está ligado, e o meu videogame está conectado à televisão. Eu faço comando de voz pelo meu videogame. Às vezes eu jogo o videogame, já pensando na série que eu vou assistir. Porque ele está interligado lá dentro, no o on demand, por exemplo. Ou eu assisto uma série e vou buscar o universo dentro do videogame. Ou seja, essa questão da grade de programação, não necessariamente eu acho que ela caiu, acho que ela é mais um modo de você conseguir alcançar o audiovisual.

PROGRAME-SE: Como pensar, então, no futuro da TV?

 

MÁRCIO MOTOKANE: Eu acho que a gente já vive a TV do futuro. Eu sempre pensei minha carreira, ao longo dos vinte e poucos anos de carreira, eu sempre pensei que a gente já vive o futuro. Primeiro de tudo, se a gente não pensar o futuro desde já, como é que eu vou conseguir, chegar à casa daquelas pessoas. Como é que eu vou conseguir, conversar e divulgar essa televisão? E o que que seria televisão no futuro hoje? Vamos pensar assim. Eu acho que é uma televisão que ela está segmentada. E olha que ela já vem do passado. TV segmentada é TV por assinatura. Ela já vem atualizada com outros suportes que ela precisa para fazer com que o universo dela pegue força. Por exemplo, se eu pegar um livro que tá ligado a televisão. Veja por exemplo, Game of Trones. Você tem uma série super forte a partir de um livro, que automaticamente conversa com games, que conversa com internet, fã boy. E por ai vai. Eu acho que essa TV do futuro ela já existe. E ela no Brasil existe há muito tempo. Inclusive a gente pode dizer que ela já existe pós dois mil e oito com o boom do YouTube, né? Quando surge o YouTube, a gente começa a ver a televisão de outro jeito, a demanda de outro jeito. Então quando se fala dessa televisão do futuro, eu acho que já é hoje. Como eu falei, eu assisto televisão de várias maneiras, com várias telas na minha frente. Só que eu foco em determinado momento em uma coisa, depois eu vou pra outra, outro suporte que é o computador, depois eu vou pra meu celular, eu volto pra tela da televisão. E por aí vai. Volto de repente por telefone pra falar com alguém sobre aquilo. Telefone nada, mentira. A gente fala por mensagens. Nem isso. Eu acho que essa televisão do futuro ela já existe. Eu acredito, na verdade, numa televisão que conte boas histórias. O formato é essencial. Que que é o formato? É saber contar um conteúdo e uma forma, de uma maneira agradável, de uma maneira que você crie curiosidade, que você crie uma relação com ela, seja de amor ou de ódio. Mas que você tenha essa relação. Pra mim isso é uma televisão do futuro, que é a televisão atual.

bottom of page